Foto: © Lena Wan

Nome: Andreia Bertini

Idade: 47

Profissão: Colorista


Quais são as duas obras mais significativas da tua carreira profissional (ou as que te inspiram)?

É difícil para mim escolher dois filmes, pois o meu trabalho tem muito a ver com a relação que se estabelece durante o processo de criação do ambiente do filme, tanto com o/a realizador/a, como com o/a DF. Não é só a forma de comunicar e de entender o outro, mas principalmente como confias e confiam em ti.

Ainda assim, tenho dois filmes marco na minha carreira profissional:

A Costa dos Murmúrios, da Margarida Cardoso, com fotografia da maravilhosa Lisa Hagstrand. Foi o primeiro filme em Portugal filmado em digital e depois transferido para 35mm: um processo que foi bem moroso e experimental na altura.  

E Cristóvão Colombo, O Enigma, do Manoel de Oliveira, com fotografia da Sabine Lancelin. Foi o primeiro filme em que trabalhei directamente com o realizador Manoel de Oliveira,  e é um marco por tudo o que aprendi e me diverti com ele. 

Onde e em que função trabalhas, e qual é a tua situação profissional actual? 

Sou colorista e desde o início deste ano que tenho o meu próprio estúdio, quase 20 anos depois de ter começado a trabalhar em cor.

Sentes-te reconhecida na função que desempenhas no teu campo profissional?

Sim, neste momento não me posso queixar a esse nível.

O que te faz tão apaixonada pela cor? E qual é o teu segredo como colorista? 

A paixão surge de uma necessidade existente na altura, pois não havia ninguém a corrigir cor em digital. Eu era montadora, trabalhava na altura nos laboratórios da Tobis Portuguesa, e comecei a fazer alguns ajustes nas imagens - muitos documentários eram filmados em DV ou Mini DV, outros em Beta Digital ou SP - e o gosto foi crescendo. Foi uma fase muito experimental e estava bastante inconsciente do que poderia surgir dali. Muito ”punk rock", como costumo dizer em piada. Acho que o segredo para qualquer profissional na área é saber ouvir e comunicar sem sombras.

Dás ao filme, à série, o seu aspecto final. Quanta liberdade criativa tens neste processo?

Depende muito de com quem estou a trabalhar, mas neste momento sinto que tenho bastante liberdade criativa, e, quanto melhor conheço a pessoa, mais natural é o processo. Muitas vezes começo a falar com as pessoas antes da rodagem, para pensarmos juntos sobre a melhor forma de chegar a um determinado ambiente.

O que desejarias para o futuro no que diz respeito à igualdade de género dentro e fora da tua área profissional?

Desejo que esse futuro de igualdade chegue rápido, pois ainda estamos tão longe, apesar do tanto que já se gritou por ele.

Achas que já houve mudanças positivas?

Acho que sim. Passo a passo. No outro dia falava com uma DF, que também é eletricista e maquinista, e ela dizia que era muito mais duro para ela conseguir espaço sendo mulher. É uma das primeiras maquinistas em Portugal, algo bem recente, e está sempre presente a questão da força física.

No inquérito que a MUTIM publicou há umas poucas semanas atrás, infelizmente, os dados relevam que a grande maioria das trabalhadoras do sector cinematográfico e audiovisual já foram sujeitas a discriminação e/ou assédio no local de trabalho. Quais são as tuas experiências pessoais neste contexto?

Também me aconteceu, mas não foi nada de muito grave ou com que não conseguisse lidar ou resolver na altura. Aconteceu-me uma outra forma de agressão sexista e com colegas da mesma profissão - que foi o mais triste - numa tentativa de descredibilização e menosprezo do meu trabalho. Tive que ouvir muitas tiradas do género: só gostam do teu trabalho porque és gira ou só trabalham contigo porque és gaja.

Que conselho darias a jovens mulheres e dissidentes que queiram iniciar uma carreira como colorista? 

Seguir tutoriais ao início e depois fazer, testar e desfazer. E voltar a fazer, muito!

Qual mensagem deixarias às mulheres do Cinema e Audiovisual? 

A luta não é só nossa, é de todos e é longa, mas firmes venceremos.

Muito obrigada!

A autora é nossa associada: Kathrin Frank

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