FINANCIAMENTO AO CINEMA E AUDIOVISUAL NÃO PODE PERPETUAR DESIGUALDADE DO SECTOR

Foi anunciada esta semana pelo ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual a abertura dos concursos de Apoio Financeiro ao Cinema e ao Audiovisual para 2024. A Associação MUTIM - Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento congratula-se com a abertura atempada dos concursos e o volume do financiamento a atribuir, superior a 29 milhões de euros. 

O aumento do apoio a atribuir por projeto, nomeadamente para a produção de longas-metragens de ficção para cinema e projetos audiovisuais de ficção e documentário, é uma boa notícia para o sector, que tem vindo a crescer e diversificar-se nos últimos anos. No entanto, esse crescimento não se fará, nem ao ritmo desejado, nem de forma sustentável, se a enorme desigualdade que o caracteriza não for atenuada.

Assim, a MUTIM lamenta a significativa disparidade de género na composição dos jurados dos concursos de 2024. Embora exista paridade relativa entre jurados e juradas nos concursos no seu todo (56% de homens e 44% de mulheres), 14 concursos têm uma maioria de homens jurados, mas apenas 5 uma maioria de mulheres juradas. 

Em alguns dos mais importantes concursos de apoio à produção, incluindo Primeiras Obras de Longas-Metragens de Ficção, 2ª Longas-Metragens de Ficção e 2ª Documentários Cinematográficos, os júris são compostos por 4 homens e 1 mulher. O financiamento total a atribuir nestes concursos será superior a 6.6 milhões de euros. Pelo contrário, apenas dois concursos serão avaliados por júris compostos por 4 juradas e 1 jurado: Curtas-Metragens de Animação para Cinema e Produção de Obras Audiovisuais e Multimédia - Animação, que em conjunto atribuirão um montante três vezes inferior ao dos concursos antes referidos.

A atribuição de financiamento ao sector não pode continuar a perpetuar a desigualdade que o caracteriza. A diversidade dos jurados que avaliam os seus concursos, a nível de género, idade, classe, origem geográfica e cor, deve ser uma prioridade do ICA, aliás destacada nos estudos preparatórios do seu plano estratégico 2024-2028. 

Esta é também uma questão pela qual a MUTIM continuará a lutar, afirmando o seu compromisso de mudar o cinema e o audiovisual em Portugal. Uma maior igualdade, diversidade e paridade no sector enriquecerá todos sem excepção, e muito em particular as histórias, os olhares e os percursos da imagem em movimento em Portugal.

MUTIM, 22 de fevereiro de 2024

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