NÃO HÁ MULHERES PARA OS JÚRIS DO ICA?
Em fevereiro de 2024, a MUTIM fez um comunicado a lamentar a disparidade de género na composição dos júris dos concursos de apoio promovidos pelo Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA). Oito meses depois, constatamos que a composição dos júris foi de mal a pior.
No decorrer do ano, vários jurados e juradas desistiram dos lugares com os quais se tinham comprometido, o que pode ser expectável e compreensível. Porém, deparamo-nos com um facto alarmante: foram nomeados 14 novos jurados, dos quais apenas uma é mulher. Seis mulheres foram substituídas por seis homens, aumentando ainda mais a desigualdade nas composições dos júris que avaliam as candidaturas a financiamentos.
Alertamos para a drástica assimetria nos seguintes concursos:
Escrita e Desenvolvimento de Obras de Audiovisual e Multimédia: 5 homens jurados, 0 mulheres juradas;
Primeiras Obras Longas-Metragens Ficção: 4 homens jurados, 1 mulher jurada;
2º Longas-Metragens de Ficção: 4 homens jurados, 1 mulher jurada;
2º Documentários Cinematográficos: 4 homens jurados, 1 mulher jurada;
Produção de Obras Audiovisuais e Multimédia - Ficção/Documentário: 4 homens jurados, 1 mulher jurada.
No total, há 57 profissionais homens nomeados para avaliar as candidaturas (61%), um valor que contrasta com as 37 profissionais mulheres designadas para a mesma função (39%).
O ICA tem dito publicamente que se orgulha de ter na composição dos seus júris um número muito próximo da paridade. Usou esse argumento várias vezes como exemplo de igualdade dentro da política da instituição. Lamentamos que os factos não sejam coerentes com as palavras.
Enquanto vigorar o atual sistema de júris, é fundamental que o ICA se comprometa com a procura de uma efetiva diversidade na sua composição. Num momento em que são revistos os regulamentos dos concursos de apoio, em que se prepara a nova declaração de prioridades do ICA, e em que estão em discussão medidas concretas para a execução de um novo Plano Estratégico para o setor, a igualdade de género e a diversidade não podem continuar a ser ignoradas.
O compromisso da MUTIM é e sempre será defender um setor mais plural e justo. Acreditamos que um olhar diverso - em género, cor, geografia e classe - nas avaliações das candidaturas contribuirá não apenas para o enriquecimento das produções de cinema e do audiovisual em Portugal, como para a diversidade dos seus conteúdos.
MUTIM, 30 de outubro 2024
nota: o presente texto foi alterado a 30.10.2024 pelas 17h, corrigindo a percentagem de jurados e juradas de 64%-36% para 61%-39%.